Hammer Flamejante

Não gosto de gente mimada. Odeio quem se gaba por algo que se têm sem ter levantado um puto pra conseguir isso – esse é o tipo de pessoa que eu desprezo. Prefiro os indefesos, os incapazes e abandonados pela sorte e o sistema. Quem disse que não se deve chamar aquela garota esquisita pro esquenta só porque ela é isolada? Nunca se sabe os segredos que a terra guarda até que a gente vá lá e os descubra com nossas próprias mãos, já cansei que achar minas de ouro mergulhadas no brejo. Nunca pare na etiqueta, vá além e faça esse favor à humanidade mas antes, claro, se esbalde até cansar.

Lembro até hoje de um lance no Ensino Médio: prova de surpresa de física, todo mundo bombou exceto eu. Na saída da aula várias pessoas vieram me cumprimentar e tentar desvendar o segredo do sucesso. Bando de tolos! Mas eu só procurava uma brecha na bajulação pra destilar um pouco de veneno até que em certo ponto me dei conta que havia um grupo de garotas nerds chorando no canto da sala. Me aproximei e a questionei o motivo da amargura na tentativa de ajudar com algum pensamento puritano. Para a minha surpresa, tomei um choque com aquela cena um tanto bizarra mas puramente linda: lágrimas escorrendo pros trás dos óculos e aqueles olhos claros e brilhantes me encarando por vários minutos. Foi uma das vezes em que eu realmente notei que esse tipo de devoção por quem tá por baixo pode se tornar algo norteador em certas ocasiões. Com o passar do tempo me meti em grupos de recuperação, fiz cartelas de acompanhamento medicinal pra um amigo, outro requisitou uma espécie de doutrina psicológica. Anos depois tive uma experiência depressiva e isso, por incrível que pareça, tão não é só perda de tempo como foi uma das épocas em que eu mais cresci na minha vida inteira como pessoa. Se compreender e tentar fazer isso com quem já perdeu as esperanças é algo realmente formidável. Nessa conduta namorei góticas, garotas com dificuldades de auto afirmação, tantos talentos esquecido que me diziam que nunca imaginavam que poderiam realizar tanto e ser tão felizes. Algumas ofereceram generosos favores em troca e eu, como um garoto comportado e íntegro que sou, obviamente recusei.

Então se você se sente discriminado só porque toma Crystal, eu tenho um recado pra você: morra, Diabo! Mas se você não toma essa porcaria e acha que o mundo vai cair na sua cabeça, pensa que nunca será promovida ou, pior, pensa que vai morrer virgem, por favor, não, não me olhe de lado com cara de quem vai pular da Ponte Sergio Motta que eu terei que correr atrás de você e te denunciar, mas antes teríamos umas boas contas pra acertar.  Isso parece um dom, uma áurea transcendental que habita minha consciência ou apenas pode ser somente papo de bêbado, por isso deixe-me te explicar de forma mais prática a esquemática da situação:

Imagine um pau magnifico que intimida já na primeira aparição. Ele te faz tremer as pernas, te dá câimbras dos dedos do pé e onde quer que se encoste há calafrios, cócegas e pequenos soluços de inquietação. Ela demonstra com todas as forças que quer dobrar a alma ao meio pois não aguenta uma espera sem fim. Quer prazer e quer agora! Então você resolve conceder e mergulha fundo naquela piscina olímpica cristalina – vai de boca no azulejo. E deixa que maré o leve pra longe, lá no desconhecido onde os olhos já não enxergam, onde as luzes estão apagadas e os gritos se tornam mais intensos. Tudo é guiado por um movimento singular, peristáltico voluntário de via dupla, uma troca de suor, de forças contrárias, dentes na carne, olhos na boca e dentes nela novamente. Troca de fluídos! Quanto mais fundo se entra mais ainda os mistérios se escondem, todos aqueles segredos por trás das dez estrelas continuam fugindo e se escondem dos outros novos milhares que estamos plantando agora em sua cabeça, digo, na dela com sua cabeça. Não. Você entendeu, certo? Cada centímetro expõe novos gritos que fazem os olhos orbitarem, no sexo todo mundo é vampiro transformado, somos todos animais querendo mais sangue alheio, estamos famintos há décadas. Posso sentir seu corpo inteiro numa onda de prazer, os ombros contraídos, a língua gélida, os seios apontando e dizendo “fuckyeah, você é o cara!”. Nos tornamos um globo sensível que se contorce até com o vento na janela. Tudo aumenta exponencialmente e tu não se importa mais em qual chão ou em qual mastro resolveu pendurar e mostrar sua inexplorada bandeira ao mundo, mas ela está lá, toda linda, esticada e tremulando nas frequências do seu coração e das suas mãos que batem contra a parede. Treme, bate, bagunça e morde. Você fecha os olhos e a vida inteira rasga pra você em milhares de imagens e não importa mais se o sindico já acordou com a martelada que a cama dá no teto do apartamento abaixo. Alguém pede: mais, mais, não, não, NÃO PÁRA. MAIS, MAIS, MAIS e BANG!… seu pau acerta a cabeça dela nessa viagem louca, suja e cativante. Você plantou muito mais que uma mandioca no deserto, amigo, e ela não vai deixar isso em branco: a mulher goza pelo cérebro. É sabido desde a época em que as relações se faziam na fila do banco ou na garupa da motocicleta. Claro que naquela época não haviam roupas nem bancos e motocicletas. Mas essa é sim a lição mais antiga do mundo, vide as tremendas historias de quem já a fez gozar por debaixo da mesa enquanto espera a lagosta no restaurante. Quem é nunca dividiu o fone de ouvido com o amigo e depois de meia dúzia de músicas saiu com os olhos virados, sorriso de algodão doce e teve a clara sensação de ter tomado uma surra? Me digam, pequenos duendes do pecado.

Bom mesmo é chegar sem fazer barulho e explodir tudo na sua cara. É bacana ser misterioso, louco, imprevisível, idiota e rir de tudo o mais alto possível. Eu fui jogado fora da caixa de clichês e não há sábio no mundo capaz de definir. É assim que são feitas as melhores caixas de presentes: com um palhaço exagerado e ridículo pulando de dentro dela, sacudindo tudo que tem direito, aquele que te dá um puta susto no inicio mas que depois te faz chorar de tantas gargalhadas e ainda empresta sua roupa pra você se sentir um pouco idiota também. Eu sou o pinto peralta, não me contento em entrar direito e fazer o trabalho certo e religioso. Vou de cabeça, torto, babando. Mexo de um lado pro outro, tento coisas antes nunca feitas no universo, vou gritar e bater de lado. É tudo parte de mesma jornada louca de estar vivo e se sentir satisfeito por isso. Eu vim aqui pra balançar o seu mundo, baby, espero que não se desespere ao perceber que esquecemos os paraquedas.